Rabiscos e
garatujas: a importância dos primeiros rabiscos
As garatujas ou rabiscos são os primeiros traços que a criança produz na
tentativa de representar o mundo. Fá-lo livremente e é algo muitas vezes
incompreensível para os adultos. No entanto, estes são importantes na
exploração do traço, da criatividade e da expressão emocional.
Os rabiscos fazem parte do desenvolvimento infantil,
da motricidade fina, da escrita, da representação do mundo, da confiança em si
e da formação da personalidade. Tal como todas as outras descobertas da
criança, o desenhar é uma arte que vai desenvolvendo através da interacção com
o mundo e com outros desenhos.
Apesar de existir uma resposta imediata dos adultos no
sentido de orientar os traços das crianças, para o desenvolvimento desta, a
atitude oposta será a mais adequada. Ou seja, os adultos, pais, educadores,
professores, devem encorajar e apoiar a criança a usar este meio para se
expressar, para melhorar as suas aptidões, e conseguir de alguma forma dar um
significado ao mundo, bem como uma conotação emocional, mas de forma livre e
espontânea.
Os elogios e os incentivos são fundamentais, assim
como as questões que se podem ir colocando sobre o que a criança está a
desenhar. Tentar compreender o desenho da criança é uma forma de tentar ver e
perceber o mundo pelo seu olhar.
Quanto mais a criança tiver a oportunidade de
contactar com outros desenhos, outros objectos, outras pessoas, mais
enriquecido será o ser reportório, a sua grafia, o seu traço, o seu desempenho.
Estes traços vão sendo melhorados e o desenho da
criança vai também tomando novas formas, tornando-se mais identificável e
compreensível. São diversas as fases do desenho da criança, e apesar deste ser
moldado pelo contexto em que a criança vive e pela sua cultura, de forma
parecida ou mais diferente, todas as crianças passam por essas fases, até terem
um traço mais definido e os seus desenhos serem mais compreensíveis.
Estas garatujas desenvolvem-se desde sensivelmente aos
12 meses (quando já conseguem segurar no lápis), e podemos defini-las de dois
tipos, segundo Piaget: Garatujas Desordenadas: quando a criança ignora os
limites do papel e é o corpo que se movimenta para desenhar, acabando por
desenhar o chão e as paredes; para além disso, não conseguem ainda compreender
que o risco é resultado do movimento com o lápis, acabando por não estar atento
ao que está a fazer, segurando o lápis de forma indiferenciada e alternada
entre as duas mãos. As Garatujas Ordenadas é quando a consciência da relação do
movimento com o traço começa a existir, e a criança sente o controlo que tem
perante a tarefa, começando a concentrar-se e a controlar o tamanho, a forma e
os sítios onde desenha. Estes riscos são simbólicos, ou seja, têm uma forma
imaginária e por isso um traço pode significar uma casa agora, e daqui pouco,
quando são acrescentados outros aspectos ao desenho, esse mesmo traço pode já
ter outra atribuição.
Os desenhos são ricos em informação, tanto da forma
como a criança vê e interpreta o mundo, como também, da forma como esta se
sente interiormente. À medida que vai crescendo, as opções que faz, as cores
que escolhe, o que desenha são muito significativos dos sentimentos bons e
maus, dos conflitos e receios, das descobertas e alegrias que as crianças vão
sentindo. Desta forma, é importante encorajar a criança a desenvolver o seu
desenho, criando oportunidades para esta desenhar, e ao mesmo tempo estar
atento aos desenhos que vão sendo feitos, mostrando interesse à criança por
compreendê-los, e compreender o que esta está a sentir.
O desenho é de alguma forma, um dos meios que a
criança tem disponível para se encontrar com as suas próprias emoções,
conseguir representá-las, dar-lhe significado quando ainda não consegue
identificar um nome para aquelas sensações que sente constantemente. Para além
disso, o desenho é a forma que as crianças têm de comunicar com os adultos
quando não conseguem por palavras.
O desenho é uma boa fonte de informação, tanto para
professores como para psicólogos. Através deles, é possível conhecer um pouco
mais a criança, perceber alguns traços de personalidade, o seu temperamento, os
seus sentimentos, as suas necessidades e faltas. Para além disto, é ainda
possível contactar com os diferentes acontecimentos marcantes que estas estão a
viver, sejam eles positivos negativos, dificuldades ou conquistas. O melhor de
tudo isto, é que para a criança isto é apenas mais uma forma de brincar e uma
tarefa da qual tira prazer.
Se inicialmente a criança desenha impulsivamente, sem
ter noção do que está a fazer, nem bem noção de como controla o que está a fazer,
posteriormente (já por volta dos 3 anos) esta passa a dominar o desenho,
colocando cada vez mais o que é, o que sente, o que gostaria de ser, etc., em
cada desenho que faz. Deste modo, nesta fase, acaba por pensar antes de
realizar o desenho, conseguindo decidir e expressar o que vai desenhar. Aos 4
anos, já consegue utilizar as cores correctas, de forma a corresponder à
realidade.
Podemos assim dizer que, quanto mais permitirmos e
estimularmos as crianças a realizarem rabiscos e garatujas, estamos a contribuir
para o desenvolvimento da criança, ao nível cognitivo, motor e emocional, e
estamos a dar-lhe ferramentas para que esta consiga explorar e interpretar cada
vez melhor o contexto e o mundo que a rodeia.
Sem comentários:
Enviar um comentário