segunda-feira, 22 de julho de 2013


Rabiscos e garatujas: a importância dos primeiros rabiscos




As garatujas ou rabiscos são os primeiros traços que a criança produz na tentativa de representar o mundo. Fá-lo livremente e é algo muitas vezes incompreensível para os adultos. No entanto, estes são importantes na exploração do traço, da criatividade e da expressão emocional.

Os rabiscos fazem parte do desenvolvimento infantil, da motricidade fina, da escrita, da representação do mundo, da confiança em si e da formação da personalidade. Tal como todas as outras descobertas da criança, o desenhar é uma arte que vai desenvolvendo através da interacção com o mundo e com outros desenhos.

Apesar de existir uma resposta imediata dos adultos no sentido de orientar os traços das crianças, para o desenvolvimento desta, a atitude oposta será a mais adequada. Ou seja, os adultos, pais, educadores, professores, devem encorajar e apoiar a criança a usar este meio para se expressar, para melhorar as suas aptidões, e conseguir de alguma forma dar um significado ao mundo, bem como uma conotação emocional, mas de forma livre e espontânea.

Os elogios e os incentivos são fundamentais, assim como as questões que se podem ir colocando sobre o que a criança está a desenhar. Tentar compreender o desenho da criança é uma forma de tentar ver e perceber o mundo pelo seu olhar.

Quanto mais a criança tiver a oportunidade de contactar com outros desenhos, outros objectos, outras pessoas, mais enriquecido será o ser reportório, a sua grafia, o seu traço, o seu desempenho.

Estes traços vão sendo melhorados e o desenho da criança vai também tomando novas formas, tornando-se mais identificável e compreensível. São diversas as fases do desenho da criança, e apesar deste ser moldado pelo contexto em que a criança vive e pela sua cultura, de forma parecida ou mais diferente, todas as crianças passam por essas fases, até terem um traço mais definido e os seus desenhos serem mais compreensíveis.

Estas garatujas desenvolvem-se desde sensivelmente aos 12 meses (quando já conseguem segurar no lápis), e podemos defini-las de dois tipos, segundo Piaget: Garatujas Desordenadas: quando a criança ignora os limites do papel e é o corpo que se movimenta para desenhar, acabando por desenhar o chão e as paredes; para além disso, não conseguem ainda compreender que o risco é resultado do movimento com o lápis, acabando por não estar atento ao que está a fazer, segurando o lápis de forma indiferenciada e alternada entre as duas mãos. As Garatujas Ordenadas é quando a consciência da relação do movimento com o traço começa a existir, e a criança sente o controlo que tem perante a tarefa, começando a concentrar-se e a controlar o tamanho, a forma e os sítios onde desenha. Estes riscos são simbólicos, ou seja, têm uma forma imaginária e por isso um traço pode significar uma casa agora, e daqui pouco, quando são acrescentados outros aspectos ao desenho, esse mesmo traço pode já ter outra atribuição.

Os desenhos são ricos em informação, tanto da forma como a criança vê e interpreta o mundo, como também, da forma como esta se sente interiormente. À medida que vai crescendo, as opções que faz, as cores que escolhe, o que desenha são muito significativos dos sentimentos bons e maus, dos conflitos e receios, das descobertas e alegrias que as crianças vão sentindo. Desta forma, é importante encorajar a criança a desenvolver o seu desenho, criando oportunidades para esta desenhar, e ao mesmo tempo estar atento aos desenhos que vão sendo feitos, mostrando interesse à criança por compreendê-los, e compreender o que esta está a sentir.

O desenho é de alguma forma, um dos meios que a criança tem disponível para se encontrar com as suas próprias emoções, conseguir representá-las, dar-lhe significado quando ainda não consegue identificar um nome para aquelas sensações que sente constantemente. Para além disso, o desenho é a forma que as crianças têm de comunicar com os adultos quando não conseguem por palavras.

O desenho é uma boa fonte de informação, tanto para professores como para psicólogos. Através deles, é possível conhecer um pouco mais a criança, perceber alguns traços de personalidade, o seu temperamento, os seus sentimentos, as suas necessidades e faltas. Para além disto, é ainda possível contactar com os diferentes acontecimentos marcantes que estas estão a viver, sejam eles positivos negativos, dificuldades ou conquistas. O melhor de tudo isto, é que para a criança isto é apenas mais uma forma de brincar e uma tarefa da qual tira prazer.

Se inicialmente a criança desenha impulsivamente, sem ter noção do que está a fazer, nem bem noção de como controla o que está a fazer, posteriormente (já por volta dos 3 anos) esta passa a dominar o desenho, colocando cada vez mais o que é, o que sente, o que gostaria de ser, etc., em cada desenho que faz. Deste modo, nesta fase, acaba por pensar antes de realizar o desenho, conseguindo decidir e expressar o que vai desenhar. Aos 4 anos, já consegue utilizar as cores correctas, de forma a corresponder à realidade.

Podemos assim dizer que, quanto mais permitirmos e estimularmos as crianças a realizarem rabiscos e garatujas, estamos a contribuir para o desenvolvimento da criança, ao nível cognitivo, motor e emocional, e estamos a dar-lhe ferramentas para que esta consiga explorar e interpretar cada vez melhor o contexto e o mundo que a rodeia.

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