Dificuldade do exame de Português cria preocupação
Os cerca de 15 mil alunos que no dia 17 não puderam fazer o exame Português do 12.º ano devido à greve de professores voltam hoje às respectivas escolas, para fazer a prova. A questão que estudantes, pais e directores colocavam ontem era: "Conseguirá o Ministério da Educação e Ciência [MEC] que todos, alunos e especialistas, considerem que o grau de dificuldade dos dois exames é semelhante?" "É decisivo que assim seja - num momento em que já toda a gente percebeu que é impossível repor a equidade, é obrigatório, pelo menos, atenuar o sentimento de injustiça", dizia ontem Jorge Ascensão, da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap).
Diogo Madruga, Carlos Caldeira, João Fortunato e Sara Ferreira, interromperam ontem o estudo para o exame para, em declarações ao PÚBLICO, se dizerem convencidos de que o dia de hoje será sossegado. São presidentes de associações de estudantes de escolas de Lisboa, Coimbra, Figueira da Foz e Braga, respectivamente, e sentiram os ânimos acalmarem à medida que o tempo corria sobre o dia 17.
Nessa segunda-feira, por falta de professores vigilantes, que estavam em greve, parte dos alunos fez exame, outra não. Mesmo dentro de cada escola nem todos fizeram exame ou deixaram de fazer - os alunos começaram a ser chamados por ordem alfabética e os que não tinham professores para vigiar as provas só mais tarde, através do ministro da Educação, souberam que poderiam fazer exame, ainda na primeira fase, a 2 de Julho.
"Nesse dia, sim, havia gente irritada: ou faziam exame todos ou não fazia nenhum", recordou Sara. Frequenta a Secundária Sá de Miranda, em Braga, uma das escolas em que os alunos preteridos protestaram de forma ruidosa, tentando impedir que os colegas fizessem as provas. A tal ponto que, naquele, como noutros três estabelecimentos, o MEC permitiu que os alunos que fizeram a prova a repitam, hoje, com a condição de a primeira ser anulada. "[Nos dias seguintes], ainda circulou um abaixo-assinado, mas depois percebemos que também não era justo reclamar a anulação do exame dos colegas", conta Sara Ferreira.
A dirigente estudantil da escola de Braga pensa que "a partir do momento em que o MEC não adiou a prova acabaram-se as boas soluções" e os alunos "conformaram-se". Carlos, da Secundária Quinta das Flores, concorda, mas ontem fez notar que o discurso da resignação pode mudar "se a prova, hoje, for muito mais fácil ou muito mais difícil do que a de dia 17"."Nesse caso, ou uns ou outros vão ficar indignados", previu.
Processo não fica por aqui
Diogo e João, dirigentes associativos das secundárias Camões, de Lisboa, e Joaquim de Carvalho, da Figueira, com um discurso apaziguador, frisaram que "o importante é que cada um se prepare o melhor possível". Admitiram, contudo, que, se a prova for considerada mais difícil (algo que é sempre subjectivo, disse Diogo Madruga), possa haver protestos dos alunos, hoje, no final do exame. "Ou, se for muito mais fácil, pode haver indignação dos que o fizeram no dia 17 e tiveram menos tempo para estudar", completou João Fortunato.
"É um equilíbrio muito difícil. Só podemos dizer que, se pais e alunos se sentirem defraudados, iremos apoiá-los", comprometeu-se Rui Martins, da Confederação Nacional Independente das Associações de Pais e encarregados de Educação (CNIPE).
Dirigentes das duas associações de directores existentes no país, Jorge Saleiro e Adelino Calado, consideram, como os representantes dos pais, que é pouco provável que, mesmo com duas provas com igual grau de dificuldade, o processo fique por aqui. "O lançamento das notas será decisivo - estes alunos concorrem entre si por lugares no ensino superior que ganham ou perdem por décimas", lembrou Ascensão.
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