segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Conselhos aos professores de alunos disléxicos



A criança disléxica dificilmente aplica as regras de leitura, de conjugação, de gramática. A forma de aplicação das regras da língua portuguesa constitui a prova mais difícil e humilhante para a criança que não pode aderir ao nosso sistema de análise neste domínio. Por exemplo, para lhe explicar a concordância do adjetivo com o nome, ela não compreende; pode memorizar a regra sem erros e, no entanto, é incapaz de fazer a concordância do adjetivo com o nome, ou seja, ela aceita a regra mas não é capaz de a pôr em prática. Por isso, sugere-se ao professor que compreenda este modo diferente de aprendizagem e tente encontrar soluções adequadas, devendo evitar explicar-lhe as regras porque vai em vão perder a paciência, esgotar-se e desencorajar-se.
 
A criança disléxica deve ser estimulada, incentivada, ser ajudada a acreditar em si, a sentir-se forte, capaz e segura, O disléxico tem sempre uma história de frustrações, sofrimentos, humilhações e cabe à escola ajudá-lo a resgatar a sua dignidade, fortalecer o seu ego e reconstruir a sua autoestima.
 
Tal como as outras crianças, deve ser avaliada para medir os seus conhecimentos com base numa norma e assim possuir referências. O melhor é comparar os resultados do momento com os realizados anteriormente.
 
Copiar, recopiar as lições e os textos, assim como os trabalhos de casa constituem exemplos de atividades que cansam terrivelmente o disléxico enquanto não for feita a reeducação.
 
É necessário verificar se realiza bem os trabalhos passados no caderno porque, ao chegar a casa, e apesar dos seus esforços, é incapaz de saber o que tem para fazer (pode escrever erradamente o número de uma página, confundir o caderno com o livro, não encontrar o excerto para ler...).
 
Na disciplina de Matemática, ao ler-lhe o enunciado, pode permitir-lhe resolver os exercícios porque, muitas vezes, não compreende ou interpreta mal o que lê, tendo dificuldades em descodificar.
Atribuir-lhe responsabilidades na turma (delegado de turma, apagar o quadro...) traz vantagens.
 
Deve encorajá-lo a ler e escrever, mesmo que cometa erros, deverá, todavia, evitar ler as suas avaliações em voz alta, sobretudo quando são muito baixas.
Ele é infeliz na língua materna e não só. Alguns professores contabilizam os erros em disciplinas como as Ciências da Natureza e a História. Por vezes, a criança disléxica só não é penalizada nas disciplinas artísticas e na Educação Física. É, portanto, penalizada de duas formas: pelos erros e pelo desconhecimento da matéria.


 
ORIENTAÇÕES E CONSELHOS:

 

Sugerimos algumas orientações e alguns conselhos fundamentais para lidar com crianças com dislexia, podendo assim o professor, em colaboração com os pais, ajudar na superação de algumas dificuldades quanto à organização.
· Proporcionar-lhe a máxima atenção individualizada e levá-la a pedir esclarecimentos quando lhe surge alguma dúvida;
· Confirmar sempre se compreendeu as tarefas escritas que lhe foram propostas;
· Assegurar-se que os textos que lhe são dados para ler correspondem ao seu nível de leitura;
· Repetir as instruções várias vezes e, se for necessário, fazê-la verbalizar para verificar se compreendeu;
· Permitir a gravação das aulas e a utilização de recursos como apontamentos, tabuada, calculadora, computador…;
· Não estar convencido de que o aluno se consegue lembrar do que aprendeu no dia anterior;
· Corrigir os seus trabalhos o mais rapidamente possível e neles destacar essencialmente os aspetos positivos;
· Valorizar os progressos de acordo com o seu esforço e não com o nível dos outros colegas da turma;
· Dar referências no tempo e no espaço:
- Referências visuais, táteis, assim como referências de orientação (propor, por exemplo, um horário pintado com cores diferentes para uma boa orientação ou um calendário pessoal no qual pudesse escrever...);
· Fornecer uma ajuda metodológica através de planos de trabalho, quadros, esquemas, fichas para superar a falta de organização do défice de memória:
- Estabelecer projetos muito estruturados com a ajuda do aluno;
- Explorar as condições de realização (a planificação das tarefas é de uma importância primordial). Este trabalho é suposto ser feito em colaboração com os pais que apoiarão o filho fora do horário escolar;
· Dar tempo ao aluno para explicar, comentar, justificar (este é um momento privilegiado para o acompanhamento);
· Adaptar as modalidades de avaliação de modo a permitir a observação do seu progresso:
- Separar a avaliação dos conhecimentos e da ortografia;
- Atribuir mais tempo para a realização dos testes de avaliação (a avaliação dos progressos, assim como a análise dos erros, são indispensáveis para estes alunos, podendo deste modo situarem-se em relação a si mesmos e às exigências escolares);
· Privilegiar a avaliação dos conhecimentos na oralidade e evitar situações que possam provocar perturbações emotivas relativas às dificuldades técnicas (por exemplo, a leitura em voz alta perante toda a turma);
· Não hesitar em utilizar, o mais cedo possível, o computador (escrever uma palavra no teclado, obrigando-o a prestar atenção à imagem da palavra):
- O corretor ortográfico integrado no computador permite escrever correcamente e assim poderá concentrar-se mais na expressão;
· Propor instrumentos facilitadores, como o computador, dicionário, calculadora, tabuada, gramática, sínteses (elaboradas com a ajuda do aluno). Estas ferramentas devem estar sempre à disposição do aluno, sobretudo na primeira fase de aprendizagem;
· Distribuir suportes escritos bem legíveis:
- Fotocópias da lição – ou resumo da mesma – antes ou depois da aula;
- Correção escrita dos principais exercícios feitos na aula.
Podemos sugerir que a turma possua cadernos para as várias disciplinas e nos quais os alunos mais rápidos efetuem todos os registos escritos (e também orais) das aulas. Estes cadernos deverão conter tudo o que foi realizado nas aulas, podendo ser consultados e mesmo fotocopiados por qualquer aluno.
· Indicar, por escrito, no caderno diário do aluno o trabalho de casa a realizar:
- Reduzir a quantidade de trabalhos de casa, consoante a lentidão, mas manter a exigência quanto à qualidade (conversar com os pais relativamente ao tempo máximo a conceder a esta tarefa).


 
Conclusão: Ainda há muito por aprender e muito para fazer. Todas estas certezas são provisórias porque cada aluno disléxico é único.
 

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