A criança
disléxica dificilmente aplica as regras de leitura, de conjugação, de gramática. A
forma de aplicação das regras da língua portuguesa constitui a prova mais
difícil e humilhante para a criança que não pode aderir ao nosso sistema de
análise neste domínio. Por exemplo, para lhe explicar a concordância do
adjetivo com o nome, ela não compreende; pode memorizar a regra sem erros e, no
entanto, é incapaz de fazer a concordância do adjetivo com o nome, ou seja, ela
aceita a regra mas não é capaz de a pôr em prática. Por isso, sugere-se ao
professor que compreenda este modo diferente de aprendizagem e tente encontrar
soluções adequadas,
devendo evitar explicar-lhe as regras porque vai em vão perder a paciência,
esgotar-se e desencorajar-se.
A criança disléxica deve ser estimulada, incentivada,
ser ajudada a acreditar em si, a sentir-se forte, capaz e segura, O disléxico
tem sempre uma história de frustrações, sofrimentos, humilhações e cabe à escola
ajudá-lo a resgatar a sua dignidade, fortalecer o seu ego e reconstruir a sua
autoestima.
Tal como as outras crianças, deve ser avaliada para
medir os seus conhecimentos com base numa norma e assim possuir referências. O
melhor é comparar os resultados do momento com os realizados
anteriormente.
Copiar, recopiar as lições e os textos, assim como os
trabalhos de casa constituem exemplos de atividades que cansam terrivelmente o
disléxico enquanto não for feita a reeducação.
É necessário verificar se realiza bem os trabalhos
passados no caderno porque, ao chegar a casa, e apesar dos seus esforços, é
incapaz de saber o que tem para fazer (pode escrever erradamente o número de uma
página, confundir o caderno com o livro, não encontrar o excerto para
ler...).
Na disciplina de Matemática, ao ler-lhe o enunciado,
pode permitir-lhe resolver os exercícios porque, muitas vezes, não compreende ou
interpreta mal o que lê, tendo dificuldades em descodificar.
Atribuir-lhe responsabilidades na turma (delegado de
turma, apagar o quadro...) traz vantagens.
Deve encorajá-lo a ler e escrever, mesmo que cometa
erros, deverá, todavia, evitar ler as suas avaliações em voz alta, sobretudo
quando são muito baixas.
Ele é infeliz na língua materna e não só. Alguns
professores contabilizam os erros em disciplinas como as Ciências da Natureza e
a História. Por vezes, a criança disléxica só não é penalizada nas disciplinas
artísticas e na Educação Física. É, portanto, penalizada de duas formas: pelos
erros e pelo desconhecimento da matéria.
ORIENTAÇÕES E
CONSELHOS:
Sugerimos
algumas orientações e alguns conselhos fundamentais para lidar com crianças com
dislexia, podendo assim o professor, em colaboração com os pais, ajudar na
superação de algumas dificuldades quanto à organização.
·
Proporcionar-lhe
a máxima atenção individualizada e levá-la a pedir esclarecimentos quando lhe
surge alguma dúvida;
·
Confirmar
sempre se compreendeu as tarefas escritas que lhe foram propostas;
·
Assegurar-se
que os textos que lhe são dados para ler correspondem ao seu nível de
leitura;
·
Repetir as
instruções várias vezes e, se for necessário, fazê-la verbalizar para verificar
se compreendeu;
·
Permitir a
gravação das aulas e a utilização de recursos como apontamentos, tabuada,
calculadora, computador…;
·
Não estar
convencido de que o aluno se consegue lembrar do que aprendeu no dia
anterior;
·
Corrigir os
seus trabalhos o mais rapidamente possível e neles destacar essencialmente os
aspetos positivos;
·
Valorizar os
progressos de acordo com o seu esforço e não com o nível dos outros colegas da
turma;
·
Dar
referências no tempo e no espaço:
-
Referências
visuais, táteis, assim como referências de orientação (propor, por exemplo, um
horário pintado com cores diferentes para uma boa orientação ou um calendário
pessoal no qual pudesse escrever...);
·
Fornecer uma
ajuda metodológica através de planos de trabalho, quadros, esquemas, fichas para
superar a falta de organização do défice de memória:
-
Estabelecer
projetos muito estruturados com a ajuda do aluno;
-
Explorar as
condições de realização (a planificação das tarefas é de uma importância
primordial). Este trabalho é suposto ser feito em colaboração com os pais que
apoiarão o filho fora do horário escolar;
·
Dar tempo ao
aluno para explicar, comentar, justificar (este é um momento privilegiado para o
acompanhamento);
·
Adaptar as
modalidades de avaliação de modo a permitir a observação do seu
progresso:
-
Separar a
avaliação dos conhecimentos e da ortografia;
-
Atribuir
mais tempo para a realização dos testes de avaliação (a avaliação dos
progressos, assim como a análise dos erros, são indispensáveis para estes
alunos, podendo deste modo situarem-se em relação a si mesmos e às exigências
escolares);
·
Privilegiar
a avaliação dos conhecimentos na oralidade e evitar situações que possam
provocar perturbações emotivas relativas às dificuldades técnicas (por exemplo,
a leitura em voz alta perante toda a turma);
·
Não hesitar
em utilizar, o mais cedo possível, o computador (escrever uma palavra no
teclado, obrigando-o a prestar atenção à imagem da palavra):
-
O corretor
ortográfico integrado no computador permite escrever correcamente e assim
poderá concentrar-se mais na expressão;
·
Propor
instrumentos facilitadores, como o computador, dicionário, calculadora, tabuada,
gramática, sínteses (elaboradas com a ajuda do aluno). Estas ferramentas devem
estar sempre à disposição do aluno, sobretudo na primeira fase de
aprendizagem;
·
Distribuir
suportes escritos bem legíveis:
-
Fotocópias
da lição – ou resumo da mesma – antes ou depois da aula;
-
Correção
escrita dos principais exercícios feitos na aula.
Podemos
sugerir que a turma possua cadernos para as várias disciplinas e nos quais os
alunos mais rápidos efetuem todos os registos escritos (e também orais) das
aulas. Estes cadernos deverão conter tudo o que foi realizado nas aulas, podendo
ser consultados e mesmo fotocopiados por qualquer aluno.
·
Indicar, por
escrito, no caderno diário do aluno o trabalho de casa a realizar:
- Reduzir a
quantidade de trabalhos de casa, consoante a lentidão, mas manter a exigência
quanto à qualidade (conversar com os pais relativamente ao tempo máximo a
conceder a esta tarefa).
Conclusão:
Ainda há muito por aprender e muito
para fazer. Todas estas certezas são provisórias porque cada aluno disléxico é
único.
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